Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



sábado, 3 de março de 2012

UM VENTO NA NOITE DO TENNESSE (Arnoldo Pimentel)

UM VENTO NA NOITE DO TENNESSE

                                 

     Abriu a porta e saiu para a varanda, queria sentir o frescor do anoitecer, ficaria por ali olhando a estrada de terra que passava em frente ao portão. A varanda era grande, com algumas plantas, assim como o quintal daquela tranqüila casa de campo. Caminhou até a cadeira de balanço do lado esquerdo da mesa de madeira e sentou-se. Do outro lado da estrada havia uma casa, do lado esquerdo uma curva e do direito uma reta até o centro do bairro.  Ali é tudo quieto, vez por outra passava um automóvel e podia-se ouvir os pássaros e o som do riacho lá no fundo após a curva da estrada de terra. Seu coração já não era tão forte como em tempos passados e por isso não se sentia bem na cidade, não se sentia mais um homem urbano. Depois de alguns minutos sua esposa, companheira há mais de cinqüenta anos veio sentar-se ao seu lado, com passos também curtos, um tanto cansados, atravessou a distância entre a porta e sentou na cadeira de balanço ao lado da sua. Ficaram alguns minutos em silêncio admirando o anoitecer. Ela sabia que ele gostava de sentir o toque do vento em seu rosto sem muitas palavras. Assim ficaram e a noite cobriu o quintal, ela levantou, acendeu a lâmpada e voltou a sentar.
- O que você pensa quando está aqui? Perguntou Maria
- Sinto que algo escapa de mim aos poucos.  – Respondeu José
- Algo como?
- A vida, talvez.
- Sente-se infeliz?
- Não, sinto-me feliz pela vida que tive.
- sente saudades de quando éramos mais jovens?
- Acho que não, tudo tem seu tempo, agora só me resta esperar enquanto fico aqui sentado observando a natureza.
- Eu sou feliz por todo tempo que vivemos juntos.
- É tão bom ouvir isso de você.
Ficaram novamente em silêncio, quem sabe não estavam lembrando cada um ao seu modo tudo que passaram juntos. A noite era fresca e as estrelas piscavam, talvez para a lua cheia que ilustrava com sua beleza aquele pedaço do céu.

- Quer um refresco? Perguntou Maria
- Quero sim, uma laranjada sem açúcar – Respondeu José
- Vou preparar.
- Enquanto espero ficarei observando a lua e as estrelas.
Maria levantou-se para ir à cozinha e José ficou na cadeira de balanço, balançando e ouvindo a voz das estrelas cantando pra lua. Era apenas um lugar, que ficou escondido no tempo em que a cadeira balançava na varanda, tocada pelo vento, protegida do sol, protegida da chuva, dos olhares ermos que passavam na estrada, dos sonhos que vagavam perdidos, enquanto o outono não dobrava a esquina pra deixar a manhã vazia.

Maria voltou com a laranjada e colocou sobre a mesa, ao lado de José, mas ele não esticou as mãos para pegar, ela sentiu um aperto no coração quando viu seus olhos fechados.

- “Talvez tenha dormido” – Pensou
- José
- José
Ela tocou seu ombro e sua cabeça caiu para o lado
- Meu velho, não me deixe sozinha
- Não me deixe sozinha meu amor, não me deixe sozinha
O vento parou de balançar a cadeira e lua escondeu-se atrás das nuvens que deixaram as lágrimas caírem na noite.


Arnoldo Pimentel

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