Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



sábado, 9 de junho de 2012

O garçom


- Bem , eu só sei que o nome dele era Rui, o resto, não sei ou não lembro se ele me falou alguma vez. Chegou numa manhã garoenta, falando que viu a placa dependurada na entrada, dizendo da precisão de um garçom. Tinha trabalhado uns tempos num restaurante, lá para as bandas da Augusta. Entendeu-se com o seu Horácio e começou logo a trabalhar. Sotaque nordestino, já meio amaciado, lá de Pernambuco. Simpático, atencioso, mas de simpatia medida aos palmos, bem controlada, sabe? Ria, mas sem mostrar os dentes. Eu, que não nasci ontem, reparo logo essas coisas. Êita, cabra escorregadio. Pontual, nunca faltou um dia em dois anos, nem por doença. Entrava e saía na hora, mas não enjeitava hora extra, não. Falava em tudo, menos de si, da vida dele mesmo. Quando a gente pensava ouvi-lo falando de si, já estava era discutindo a escalação do Corinthians ou os engarrafamentos na Marginal. Vaselina todo, o Rui. Servia muito bem as mesas, dizia nunca ter freqüentado senac nem escola de garçom nenhuma. Claro, a gente pensava que fosse mentira, pabulagem besta. Ah! Bom de serviço mas ruim de bola. Jogava de atacante nas nossas peladas. Meio barrigudo, mais levava baque que jogava bola. Mas sempre bem-humorado. Acho que aquela doidice era o jeito dele jogar mesmo. Grande figura o Rui. Todo mundo gostava dele. Na noite de seis de março, chegou um senhor já meio coroa no restaurante. Tinha telefonado e reservado mesa para três pessoas, ele e mais dois caras mais jovens, parecidos com ele, cara de um, focinho do outro, dizem lá na minha terra. O coroa falava num sotaque nordestino muito forte, puxava de uma perna... não lembro qual. Olhava todo mundo de cima, cara acostumada a mandar, a gente conhece logo, servindo esse povo há anos. O Rui atendeu, ficou meio sem jeito quando encarou o velho, mas não disse nada. Trabalhou muito bem, como sempre. O jantar foi normal, igual a todos os outros. Pediram sobremesa para os três. Fui até à entrada, papear com o Nonato, o manobrista, aquele cearense que esteve aqui também. Retornando ao salão, vejo o Rui trazendo uma compoteira grande, enorme e pouco usada. Pôs em cima da mesa do coroa, fez uma mesura e destampou-a. O coroa olhou para ele, vermelho feito uma manga-rosa. Levantou-se, o guardanapo no pescoço todo enrugado. Rui puxou um revólver não sei de onde, sapecou-lhe três tiros,um champanhe de sangue pipocou no peito do velho, mais um tiro em cada acompanhante e no derradeiro, estourou os próprios miolos... meu Senhor do Bonfim, que bagaceira... mas foi assim mesmo. Olhe, só de maitre tenho já vinte anos. Vi de tudo na minha vida, menos alguém servir compota de merda aos assassinos da sua família, com aquele sangue frio e ainda por cima, dar chumbo grosso de saideira. Desculpe a minha fala, mas esse mundo é muito estranho, doutor delegado.



Conto de André Albuquerque

Nenhum comentário: